terça-feira, 18 de setembro de 2007

Aulinha de história com o titio Max Lopes

Continuando esse esforço hercúleo para divulgar o samba, transcrevo o enredo que foi montado pelo carnavalesco da escola. Extraído do site do G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira:

"100 anos do frevo, é de perder o sapato. Recife mandou me chamar..."
Sinopse carnaval 2008

INTRODUÇÃO

De onde veio ninguém sabe. Só sabemos que é pernambucano da gema, nasceu em Recife. Não se sabe em que Beco, Rua ou Avenida ele apareceu, simplesmente apareceu. Sempre anunciado tal como uma Majestade, por clarins.

Sua certidão de nascimento...ninguém sabe, ninguém viu. Não foi registrado em nenhum cartório, “nasceu em recife”, nome não tem, simplesmente um apelido: “Frevo”. Quem deu?

Foi o povo. Frevo que vinha da frevura, lembrava a fervura do tacho de mel do Engenho de açúcar.

Precisamente no Bairro São José se criou, no meio do povo.

Em 09 de fevereiro de 1907, o maior Jornal da época começou a fazer referência a ele.



FREVO (ORIGEM)

Esta dança teve origem nos movimentos da Capoeira. A estilização dos passos foi resultado da perseguição infligida pela Polícia aos capoeiras, que, aos poucos, sumiram das ruas, dando lugar aos passistas.

Em meados do século XIX, em Pernambuco, surgiram as primeiras bandas de músicas marciais, executando dobrados, marchas e polcas. Estes agrupamentos musicais militares eram acompanhados por grupos de capoeiristas.

Por esta mesma época, surgiram os primeiro clubes de carnaval de Pernambuco, entre eles o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas (1889) e o C. C. M. Lenhadores,quando capoeiristas necessitavam de um disfarce para acompanhar as bandas, agora dos clubes, já que eram perseguidos pela polícia. Assim, modificaram seus golpes acompanhando a música, originado tempos depois o “Passo” (a dança do Frevo) e trocando suas antigas armas pelos símbolos dos clubes que, no caso dos Vassourinhas e Lenhadores, eram constituídos por pedaços de madeira encimados por uma pequena vassoura ou um pequeno machado, usados como enfeites.

A sombrinha teria sido utilizada como arma pelos capoeiristas, à semelhança dos símbolos dos clubes e de outros objetos como a bengala. De início, era o guarda-chuvas comum, geralmente velho e esfarrapado, hoje estilizado, pequeno para facilitar a dança, e colorido para embelezar a coreografia. Atualmente a sombrinha é o ornamento que mais caracteriza o passista e é um dos principais símbolos do carnaval de Pernambuco.

O frevo é uma dança inspirada em um misto de Marcha e Polca, em compasso binário ou quartenário, dependendo da composição, de ritmo sincopado. É uma das danças mais vivas e mais brejeiras do folclore brasileiro. A comunicabilidade da música é tão contagiante que, quando executada, atrai os que passam e, empolgados, tomam parte nos folguedos. E é por isso mesmo, uma dança de multidão, onde se confundem todas as classes sociais em promiscuidade democrática. O frevo tanto é dançado na rua, como no salão. O berço do frevo é o estado de Pernambuco, onde é mais dançado do que em outra qualquer parte. Há inúmeros clubes que se comprazem em disputar a palmo nesta dança tipicamente popular, oferecendo exibições de rico efeito coreográfico. Alguém disse que o frevo vem da expressão errônea do negro querendo dizer: “Eu fervo todo”, diz: “Quando eu ouço essa música, eu frevo todo.”

O frevo é rico em espontaneidade e em improvisação, permitindo ao dançarino criar, com seu espírito inventivo, a par com a maestria, os passos mais variados, desde os simples aos mais malabarísticos, possíveis e imagináveis. E, assim, executam, às vezes, verdadeiras acrobacias que chegam a desafiar as leis do equilíbrio.


OS CEM ANOS DO FREVO

Texto extraído do CD Frevo, Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil

“Quando nasce uma manifestação artística, quem determina sua existência, o povo, a cidade, pode-se imaginar que surge de um desejo inconsciente, traduzindo a reação do povo na sua noção de liberdade. Tudo isso faz sentido quando se pensa numa panela em ebulição, quando se vê a água ferver (O Frevo).”

“No final do século XIX e início do século XX, na fervura de uma cidade em ebulição, as classes sociais populares se organizam. O Frevo traduz o clima de agitação vivido pelo Recife no momento de sua expansão urbana, o fortalecimento do movimento operário e a perspectiva de modernização encontram sua maior expressão no Frevo. A força emergia da grande massa popular que habitava a cidade do Recife.”


Ele começa com todo aquele desfile de bandas de música da segunda metade do século XIX e chega até o início do século XX, quando veio por mar e vem se caracterizar numa chamada marcha carnavalesca pernambucana e passa a ter o nome popular de FREVO. Tendo ele nascido com todo seu embrião musical dentro dos bairros centrais do recife, ele é um patrimônio e uma invenção do povo pernambucano. Leonardo Dantas – pesquisador

“Riqueza melódica e originalidade, mesclas diversas, polcas, mazurcas e dobrados, somada à criatividade de seus compositores expressam o Frevo, música urbana criada e recriada a partir daqueles que a vivenciam.
Texto Institucional

Eu aprendi com o Mestre Cipó o seguinte: o Frevo se divide em Frevo de Rua, Frevo de Bloco e Frevo Canção.
Zé da Flauta – produtor musical

O Frevo de Rua é quando ele é unicamente instrumental, quando é executado só pelas orquestras, como acontece nas ruas do Recife e Olinda.
Tem também o Frevo Canção que é executado por uma orquestra de rua e tem a mesma pressão e a mesma cor, mas tem um cantor ou uma cantora na frente. E tem o Frevo de Bloco que é tocado por uma orquestra de pau ou cordas, com violões, bandolins, cavaquinhos e flautas e é cantado por um coro feminino.
Maestro Spock

O Frevo de Rua divide-se em Frevo Coqueiro, Frevo de Ventania e Frevo de Abafo. O Frevo Coqueiro destaca os metais, os trompetes, os trombones que dão notas muito altas. O Frevo Ventania é aquele onde o naipe de saxofones tem destaque maior que os metais, e o Frevo de Abafo, que é usado para abafar o som de outro bloco, ou seja, um tocando para abafar o som do outro. Um exemplo de Frevo de Abafo é o “Vassourinhas”.
Zé da Flauta – produtor musical

O Frevo em si é uma música de perguntas e respostas; os metais perguntam e as paletas respondem.
Maestro Duda – compositor e regente

Mas naturalmente quando se toca um Frevo de Rua para as pessoas dançarem, é um binário muito sacudido.
Antonio Carlos Nóbrega – ator e músico

“Passo, jogo de braços e pernas, dança inventiva e popular apresentada, principalmente como legado da capoeira que foi criada pelos negros africanos no Brasil. Nascida com instinto natural de preservação da vida e luta pela liberdade, como linguagem de dança, além da beleza e da arte, não se pode desvinculá-la do tempo, do espaço social e da relação íntima entre o homem, seu corpo e o meio. Na verdade das suas várias maneiras de existir.”

Os membros da agremiação carnavalesca estavam com uma coreografia muito determinada, uma questão de disciplina, era importante mostrar disciplina. A capacidade da camada trabalhadora de se organizar e era importante mostrar para os outros que você tinha esta capacidade. E havia toda a outra parte de agregados ao cortejo que ficavam livres e que passaram a criar novos passos.
Rita de Cássia – pesquisadora

As Bandas de Música tinham um caráter político. Havia aquelas ligadas a um determinado partido político e outras ligadas aos partidos rivais e cada uma delas contratava capoeiras para irem dançando na frente para defender os participantes da Banda daqueles eventuais ataques de grupos políticos rivais. E então, desses passos de capoeiras, nasceu o passo que caracteriza o Frevo.
Ariano Suassuna – escritor

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